Paul Otlet: o pensador que transformou a forma como organizamos o conhecimento

Paul Otlet | Imagem gerada e aprimorada com auxílio de Inteligência Artificial (Google Gemini).

Quando falamos em organização da informação, é impossível ignorar Paul Otlet (1868–1944). Muito antes de a Ciência da Informação existir como campo formal, Otlet já formulava ideias que hoje estruturam bibliotecas, centros de documentação e até sistemas digitais de busca. 

Seu pensamento não se limitava à organização de livros. Ele enxergava a informação como um sistema vivo, composto por documentos, pessoas, instituições e fluxos de conhecimento.

1. Um visionário da Documentação

Paul Otlet é reconhecido como um dos fundadores da Documentação, área que antecede e influencia diretamente a Biblioteconomia contemporânea e a Ciência da Informação.

Para ele, documentos não eram apenas objetos físicos armazenados em estantes. Eram unidades de conhecimento que precisavam ser descritas, relacionadas entre si e acessadas de forma eficiente. Essa visão ampliada rompeu com uma lógica puramente custodial e abriu espaço para práticas que hoje consideramos centrais, como:

  • descrição sistemática,
  • indexação por assunto,
  • classificação temática,
  • recuperação da informação orientada ao usuário.

Esse olhar mudou profundamente a forma de lidar com o conhecimento registrado.

2. O Mundaneum: um “Google em papel”

Em parceria com Henri La Fontaine, Otlet criou o Mundaneum, um projeto ambicioso que tinha como objetivo reunir e organizar todo o conhecimento humano disponível.

O Mundaneum chegou a conter milhões de fichas catalográficas, organizadas por assunto e mantidas por uma vasta rede de correspondência internacional. A proposta era clara e, ao mesmo tempo, ousada: centralizar o conhecimento humano e torná-lo pesquisável.

Para isso, foram desenvolvidos sistemas de classificação, métodos de registro e redes colaborativas que antecipavam, em papel, muitas funcionalidades que hoje associamos aos bancos de dados digitais e aos motores de busca.

Fontaine e Otlet | Imagem gerada e aprimorada com auxílio de Inteligência Artificial (Google Gemini).

3. A Classificação Decimal Universal (CDU)

Outro marco fundamental do legado de Otlet foi a criação da Classificação Decimal Universal (CDU), desenvolvida a partir da Classificação Decimal de Dewey (CDD).

A CDU trouxe avanços importantes, como:

  • maior detalhamento,
  • possibilidade de combinação de classes,
  • flexibilidade para áreas especializadas do conhecimento.

Essas características tornaram a CDU especialmente adequada para centros de documentação e ambientes informacionais complexos. Sua estrutura hierárquica e combinatória influenciou profundamente a organização do conhecimento e continua sendo utilizada em diversos contextos até hoje.

4. A internet antes da internet

Talvez o aspecto mais fascinante de Paul Otlet seja sua capacidade de imaginar o futuro da informação.

Em textos, esquemas e diagramas, ele descreveu ideias como:

  • máquinas conectadas a grandes bancos de dados,
  • transmissão remota de documentos,
  • redes globais de informação,
  • acesso individualizado ao conhecimento.

Décadas antes do surgimento dos computadores modernos e da internet, Otlet já pensava em uma sociedade conectada pela informação. Muitos de seus escritos parecem verdadeiros esboços de uma pré-história da web.

5. Por que Otlet ainda importa para a Biblioteconomia?

Otlet continua relevante porque seu pensamento:

  • estabeleceu bases teóricas sólidas para a organização do conhecimento;
  • valorizou a mediação entre informação e usuário;
  • compreendeu a informação como sistema, rede e fluxo, e não apenas como acervo;
  • antecipou desafios atuais relacionados a acesso, interoperabilidade e circulação do conhecimento.

Seu legado atravessa disciplinas como Representação Descritiva, Fontes de Informação, Organização do Conhecimento e Comunicação Científica.

Estudar Paul Otlet é entender que a Biblioteconomia nunca foi apenas sobre livros; sempre foi, e continua sendo, sobre conectar pessoas, documentos e saberes.

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